quarta-feira, 5 de março de 2025

FALSIFICAÇÕES EM PROVAS PERICIAIS - ODONTOLOGIA – artigo de opinião

 

FALSIFICAÇÕES EM PROVAS PERICIAIS - ODONTOLOGIA – artigo de opinião

 

Por André Eduardo Amaral Ribeiro[1], perito judicial em São Paulo

andreamaralribeiro@hotmail.com

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Por incrível que pareça, as falsificações em perícias na Odontologia são poucas. Nesses onze anos, lembro de três casos somente. Dois deles foram em cotações de OPME, aqueles materiais em cirurgia, que chamam de “placas”, as fixações internas rígidas para fixar os ossos em seus lugares após os cortes de osteotomia.

O já um bocado de processos. Temos que ler o maior número de processos para nos familiarizarmos com todas as situações possíveis que possam nos levar a uma conclusão errada: falta de provas, alteração delas, omissão intencional. Veja um decisão judicial, quando apontei a falsidade, em 2021, no Fórum do Butantã em São Paulo:

Texto

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No caso acima, era uma advogada jovem que se enveredou pelo crime. A autora era tia dela, portanto, não pagou nada pela defesa de advogados. Ambas se juntaram para ganhar um dinheiro facilmente. Foram descobertas e pagaram caro pelo erro. A tia gastou um dinheiro vultoso com a condenação. Já a sobrinha, perdeu a licença de advogada, pois tinha outras más condutas no histórico.

No caso, a apuração policial em processo de Odontologia não é fácil. Os policiais acabam interrogando as pessoas e se caírem em contradições, eles assinam isso no inquérito. Não são capazes de apurar uma alteração num software de gestão de consultório. Mas eu os auxiliei nisso, por isso, sempre sugiro que todos os documentos que o perito assinar, deixem seus contatos por e-mail e telefone para contato. Os documentos vão se espalhando pelo Brasil e qualquer pessoa poderá te encontrar. Veja meu rodapé: uma linha, meu e-mail e meu celular. Talvez a grande demanda de nomeações periciais seja por isso, meu e-mail está em todos os documentos que escrevo. Nunca se sabe onde vão acabar. Mas já me procuraram de Alagoas, Amazonas e Brasília por causa disso.

Quanto à remessa dos autos à Comissão de Ética da OAB-SP, tenho minhas ressalvas. Quando precisei dela para me queixar de um advogado, acho que ela agiu de modo corporativista[2]. Já alertei em meu livro sobre o problema do corporativismo. É fácil perceber quando o autor defende sua categoria profissional, pelo menos eu percebo facilmente. Uma das piores crenças para um perito, pois já ouvi de pessoas que o perito deve trabalhar pela classe que representa. Isso não dará certo se você pretende ser um perito. Acredito que as associações da advocacia sejam as mais corporativistas nas comissões de ética deles. Um amigo meu que trabalhou no Pátio do Colégio, em São Paulo, sempre me orientou sobre isso. Ele saiu da Comissão de Ética da OAB por estes comportamentos. Acreditava que a comissão deixava de cumprir seu dever, ao acariciar os advogados diante de acusações sérias. Já a Promotoria de Justiça não age assim com advogados. Os promotores que conheço são duros nas representações criminais.

Como os processos em Odontologia são muito parecidos entre si nas provas, entendo que é a razão para haver poucas tentativas de falsificações: o paciente que reclama sempre apresenta as mesmas provas – três orçamentos e algumas conversas de WhatsApp. Já os dentistas sempre apresentam as mesmas defesas: cópias dos prontuários e radiografias. As radiografias são de interpretação objetiva, por isso gosto delas para amparar meus laudos. Já os prontuários são sempre deficientes nos textos, por isso os dentistas perdem 80% das demandas indenizatórias – suas anotações raramente esclarecem o que ocorreu em cada consulta.

Os dentistas costumam escrever apenas uma linha: restauração do 34, exodontia do 44, endo do 31, resina 44, ajuste oclusal no 36. Raramente vejo uma anotação com CID, motivo da queixa, procedimentos realizados, data, número de tubetes aplicados. As condenações são proporcionais à qualidade do preenchimento de cada consulta. Com a prática, conseguimos perceber qual é o texto ideal para cada retratar todo o tratamento

 

São Paulo, 5 de março de 2025



[1] Nomeado 295 vezes para perícias em Odontologia.

[2] Corporativismo: tendência de cada profissional defender sua própria classe, em qualquer situação.

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