segunda-feira, 30 de março de 2015

Açúcares artificiais

A preocupação crescente com a saúde fez surgir os adoçantes artificiaissubstâncias químicassintéticas de baixo teor calórico capazes de conferir um sabor doce a alimentos e bebidas, substituindo o açúcar comum.
Alguns destes compostos não são metabolizados pelo organismo humano, outros são metabolizados, mas logo são excretados, sem efeito cumulativo considerável, outros, ainda, são sintetizados de forma lenta, mantendo estáveis os níveis de açúcar no sangue. Devido a estas propriedades, os adoçantes artificiais são inseridos nas dietas de indivíduos diabéticos e obesos, permitindo o consumo de alimentos doces, porém menos calóricos.
Veja alguns dos adoçantes artificiais mais comuns:
  • Sacarina: substância artificial derivada do petróleo descoberta em 1879, é cerca de 200 vezes mais doce que a sacarose. É muito utilizada como adoçante principalmente na produção de refrigerantes de baixo valor calórico. Deixa um sabor amargo na boca.
  • Ciclamato de sódio: descoberto em 1937, é cerca de 30 vezes mais doce que a sacarose. É utilizado como adoçante artificial não calórico em vários tipos de alimentos e bebidas, e na composição de alguns medicamentos. Bastante estável, podendo ser submetido a elevadas temperaturas. Se ingerido em grandes quantidades pode causar diarreias.
  • Aspartame: descoberto em 1965, é cerca de 180 vezes mais doce que a sacarose e um dos mais usados nos dias atuais, principalmente na produção de bebidas. É contra-indicado aos indivíduos portadores da fenilcetonúria, visto que, um dos seus metabólitos é o aminoácido fenilalanina. Além das bebidas, o aspartame também é aplicado na fabricação de outros 6 mil produtos, aproximadamente, incluindo gomas de mascar, pós para sobremesas, recheios, iogurtes, adoçantes de mesa, e alguns fármacos como vitaminas e pastilhas.
  • Neotame: é o mais potente de todos os adoçantes artificiais, cerca de 8 mil vezes mais doce que a sacarose. Não deixa gosto residual na boca e seu sabor muito se assemelha ao do açúcar comum. A produção de bebidas diet ganha destaque quando se trata do uso do neotame.
O consumo de adoçantes artificiais é benéfico também na prevenção da cárie dentária. Sabe-se que a cárie é resultado da fermentação de carboidratos pela microbiota da placa dentária. Esses microrganismos não são capazes de fermentar os adoçantes sintéticos, evitando, assim, o surgimento da cárie.
Há uma preocupação constante quanto ao risco de efeitos secundários que possam ser causados por esses produtos, em especial, o aumento da propensão para o câncer. Por isso, diversos tipos de adoçantes artificiais já tiveram seu uso banido em alguns países, como por exemplo, a sacarina, que já foi suspensa na França e no Canadá.

Novo medicamento para hepatite C tem registro liberado


Sofosbuvir completa lista do novo tratamento para a doença aprovado pela Anvisa este ano. Medicamentos devem ser disponibilizados no SUS até o final deste ano

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu nesta segunda-feira (30/3) o registro do sofosbuvir, indicado para o tratamento da hepatite C crônica. Este é o terceiro medicamento aprovado pela agência em 2015, após o registro do daclatasvir – em janeiro –, e do simeprevir – em março. Juntos, eles compõem um novo e eficiente tratamento para a doença disponível no mundo, com um percentual de cura de cerca de 90%. A expectativa é que os medicamentos sejam disponibilizados no Sistema Único de Saúde (SUS) até o final deste ano. O Brasil será um dos primeiros países a adotar as novas tecnologias na rede pública de saúde.

Os medicamentos receberam prioridade de análise na agência por serem de interesse estratégico para as políticas de tratamento da hepatite do Ministério da Saúde. A avaliação para a concessão do registro teve duração entre cinco e oito meses. As novas opções terapêuticas proporcionam tempo reduzido de tratamento – de um ano, em média, para três meses –, redução da quantidade de comprimidos, além da vantagem de serem de uso oral. A expectativa é que o novo tratamento beneficie 60 mil pessoas nos próximos dois anos.

“Essas importantes incorporações reforçam o compromisso do Ministério da Saúde em ofertar o melhor tratamento disponível para os pacientes com hepatite C e consolidam a política de tratamento da doença que vem sendo desenvolvida pela pasta. Por isso, foi feito o pedido de prioridade de análise, tanto na Anvisa quanto na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec)”, explicou Fernão Mesquita, Diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde.

A comissão garante a proteção do cidadão com relação ao uso e eficácia do medicamento, por meio da comprovação da evidência clínica consolidada e o custo-efetividade dos produtos. O sofosbuvir foi aprovado pela Anvisa na forma farmacêutica comprimido e concentração de 400mg. A concessão do registro permite que o medicamento seja comercializado no Brasil.
Conheça a doença
A hepatite C é causada pelo vírus C (HCV). A transmissão ocorre, dentre outras formas, por meio de transfusão de sangue, compartilhamento de material para preparo e uso de drogas, objetos de higiene pessoal - como lâminas de barbear e depilar -, alicates de unha, além de outros objetos contaminados com o vírus utilizados na confecção de tatuagem e colocação de piercings. Há também transmissão vertical (de mãe para filho) e sexual.

Estimativas indicam que cerca de 3% da população mundial pode ter sido exposta ao vírus e desenvolvido infecção crônica, o que corresponde a 185 milhões de pessoas. No Brasil, calcula-se que 1,4 a 1,7 milhão de pessoas estejam infectadas pelo vírus, sendo a maior parte na faixa etária dos 45 anos ou mais. Muitos desconhecem o diagnóstico, já que a doença é silenciosa e apresenta sintomas em fases avançadas.

O Brasil é um dos únicos países em desenvolvimento no mundo que oferece prevenção, diagnóstico e tratamento universal para as hepatites virais em sistemas públicos e gratuitos de saúde. O país comandou a criação de um Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais (28 de julho) e lidera o movimento global de enfrentamento da doença.
Por Nivaldo Coelho, da Agência Saúde

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/noticias/?p=192888

domingo, 29 de março de 2015

Tuberculose: um risco para o profissional de Odontologia

Taxa de mortalidade por tuberculose cai 20,7% em 10 anos

Meta do Ministério da Saúde trabalha para reduzir em 95% os óbitos pela doença até 2035

Após atingir as metas dos Objetivos do Milênio (ODM) de combate à tuberculose com três anos de antecedência, o Ministério da Saúde assume compromisso de reduzir em 95% os óbitos e em 90% o coeficiente de incidência da doença até 2035. Nos últimos dez anos, o Brasil reduziu em 22,8% a incidência de casos novos de tuberculose e em 20,7% a taxa de mortalidade da doença. Em 2014, a incidência de tuberculose no Brasil foi de 33,5 casos por 100 mil habitantes, contra 43,4/100 mil em 2004. A taxa de mortalidade de 2013 foi de 2,3 óbitos por 100 mil habitantes, abaixo dos 2,9 óbitos por 100 mil habitantes registrados em 2003.

Os novos números foram anunciados pelo ministro da Saúde, Arthur Chioro, nesta segunda-feira (23/3), em sessão solene pelo Dia Mundial de Combate à Tuberculose, celebrado em 24 de março. Além dos dados, o ministro apresentou as ações desenvolvidas pelo Ministério da Saúde que resultaram na antecipação, em três anos, das metas dos Objetivos do Milênio da Organização Mundial de Saúde (OMS) para 2015. O número de casos novos teve redução de 12,5%, passando de 77.694, em 2004, para 67.966 casos novos registrados em 2014.

“A estratégia de eliminação da tuberculose pós-2015, que o Brasil lidera junto à OMS, é a visão de que podemos viver em um mundo livre de tuberculose, com o objetivo de eliminar epidemia global da doença. Para isso, os países precisam avançar conjuntamente e estabelecer metas progressivas que possam fazer com que se chegue a essa marca tão desejada”, informou Chioro.


Descentralização
A descentralização do tratamento para a Atenção Básica pode ser apontada como uma das causas da redução nos índices da doença. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza gratuitamente o tratamento contra a tuberculose. Para atingir a cura, o paciente deve realizá-lo durante seis meses, sem interrupção. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, atualmente, existam no mundo nove milhões de casos novos da doença.

O principal sintoma da tuberculose é a tosse por mais de três semanas, com ou sem catarro. Qualquer pessoa com esse sintoma deve procurar uma unidade de saúde para fazer o diagnóstico. São mais vulneráveis à doença as populações indígenas, presidiários, moradores de rua - estes devido à dificuldade de acesso aos serviços de saúde e às condições específicas de vida -; além das pessoas vivendo com o HIV.

“O sucesso da resposta do país e os desafios que ainda teremos que responder só terão êxito se tivermos a capacidade de constituir uma ampla aliança em torno de ações concretas de vários setores, não apenas os gestores e trabalhadores da saúde, mas também de atores de outras áreas da sociedade que se associam no enfrentamento da tuberculose”, avaliou o ministro.


Teste rápido
O teste rápido da tuberculose já está disponível em 94 municípios, alcançado todos os estados e o Distrito Federal. Eles estão distribuídos em cidades estratégicas para o controle da tuberculose, onde se concentram 60% dos casos novos do país, o que engloba todas as capitais e os municípios com mais de 130 casos novos de tuberculose.

Denominado “Gene Xpert”, o teste detecta a presença do bacilo causador da doença em duas horas e identifica se há resistência ao antibiótico rifampicina, usado no tratamento. Ao todo, o Ministério da Saúde distribuiu 160 máquinas, com capacidade de realizar, juntas, 640 mil testes por ano.

O investimento do Ministério da Saúde para a implantação do teste no SUS é de R$ 15 milhões. Os recursos são destinados à aquisição de testes, máquinas (computadores de última geração com leitor de código de barras) e para o treinamento dos profissionais de saúde. A técnica já foi testada nas cidades de Manaus (AM) e Rio de Janeiro (RJ), com aumento da taxa de detecção e de satisfação dos usuários e profissionais de saúde com a nova tecnologia.
Por Carlos Américo e Camila Bogaz, da Agência Saúde

domingo, 22 de março de 2015

Câncer de boca

O câncer pode aparecer em qualquer parte do corpo, mas há certos tipos de tumores que têm predileção pela boca, garganta e pescoço e estão relacionados, geralmente, a agentes causais como o álcool e o tabaco. Por se desenvolverem em áreas mais fáceis de visualizar, esses tumores são passíveis de diagnóstico precoce e, com pequenas intervenções cirúrgicas, é possível resolver definitivamente o problema.
Infelizmente no nosso meio, o diagnóstico das lesões costuma ser tardio, numa fase em que já surgiram, no pescoço, linfonodos (gânglios) comprometidos pela doença, o que obriga submeter o paciente a cirurgias muito mais extensas e, às vezes, bastante mutiladoras. O mais triste é que essa situação poderia ser evitada. Um exame simples, utilizando um abaixador de língua, um espelhinho e uma lanterna, realizado por profissional devidamente treinado, bastaria para diagnosticar precocemente a doença e evitar muito sofrimento.
AGENTES CAUSAIS
Drauzio – O que provoca as lesões que levam ao câncer de boca?
 Orlando Parise Jr. – O câncer de boca está muito associado ao cigarro. Não se pode esquecer, porém, que há outros fatores de risco envolvidos como o alcoolismo (especialmente quando associado ao tabagismo) e a má higiene oral.
Drauzio – De que maneira o cigarro provoca as lesões de boca?
 Orlando Parise Jr.– O cigarro é extremamente tóxico. Possui 5.000 substâncias que são danosas à saúde e que agem de maneira diferente. A principal, e a mais clássica, é o benzopireno. Experimentalmente, já foi provado que basta pincelar benzopireno na boca de cobaias para que os animais desenvolvam tumores. Além disso, não se pode esquecer da ação térmica do cigarro. Como a fumaça chega muito quente na boca do fumante, provoca uma irritação crônica que obriga a mucosa a reproduzir-se de modo mais acelerado, o que leva à multiplicação de células e ao câncer.
Drauzio –Você disse que a fumaça do cigarro é aspirada numa temperatura muito alta, embora as pessoas digam não sentir a boca queimar quando fumam. Essa alta temperatura que outros danos pode provocar na boca do fumante?
Orlando Parise Jr. – Na verdade, a fumaça do cigarro é um fator de risco para o desenvolvimento de câncer não só de boca e de garganta, mas de muitos outros órgãos, entre eles, o esôfago e o pulmão. Quando a pessoa dá uma tragada, a alta temperatura da fumaça provoca a mistura de substâncias químicas. Isso gera compostos, que não estavam originalmente no cigarro, mas são responsáveis por danos ao organismo. É o fenômeno chamado pirossíntese.
Drauzio – Aproximadamente, qual é a temperatura da fumaça do cigarro ao entrar na boca?
Orlando Parise Jr. – É de setenta e poucos graus. Isso varia um pouco de acordo com o tipo de cigarro, mas a temperatura é sempre suficientemente alta para provocar danos, em especial, se o processo agressivo for repetido com frequência.
Drauzio – Se colocarmos água a 70º na boca, a dor será intensa. Como o fumante não sente a boca queimar?
Orlando Parise Jr. – Não sente, porque a fumaça não é líquida, mas uma emulsão de partículas dissolvidas nos gases. Além disso, com o tempo, o fumante perde muita coisa, inclusive a sensibilidade da boca e da laringe. Tanto isso é verdade que, às vezes, as pessoas engordam quando param de fumar, porque redescobrem o sabor dos alimentos.
CARACTERÍSTICAS DAS LESÕES
Drauzio – Onde surgem, preferencialmente, os tumores dOrlando Parise Jr. – Geralmente, o sítio de eleição é a borda lateral da língua, mas as lesões podem aparecer em qualquer ponto da mucosa. Na boca, elas são mais visíveis e, por isso, o diagnóstico precoce é mais frequente. A própria pessoa nota alguma coisa estranha ou o dentista observa a lesão num exame odontológico de rotina e encaminha o paciente para um especialista a fim de fazer uma biópsia. O problema é maior nas regiões posteriores das vias aéreas, ou seja, nos seios piriformes e na laringe. Às vezes, quando surgem os sintomas, a lesão já está muito grande.
Drauzio – Na fase inicial, qual é a aparência das lesões de boca?
Orlando Parise Jr. – Elas podem surgir sob a forma de pequenas feridas brancas ou vermelhas ou de úlceras que são confundidas com aftas. É preciso dizer, porém, que parte dessas alterações não chega a virar câncer. Em cada cinco ou seis, uma se transforma num tumor maligno. Por isso, o diagnóstico precoce é tão importante.
Nos Estados Unidos, por exemplo, 90% das lesões são diagnosticadas na fase inicial, quando o tumor tem, no máximo, 2cm em seu eixo maior. No Brasil, a proporção é inversa: 85% dos tumores estão em estágio avançado no momento do diagnóstico. Sem falar no sofrimento dos pacientes, que deixam de beneficiar-se com um tratamento simples, uma pequena cirurgia de rápida recuperação, o diagnóstico tardio reverte num custo muito grande porque o requer, além de cirurgia mais invasiva, aplicações de rádio e quimioterapia.
Drauzio – Na imagem 1 ,aparece uma leucoplasia localizada no bordo lateral da língua. Quais as principais características dessa lesão?
Orlando Parise Jr. – É uma lesão esbranquiçada que sobressai ao plano da língua. Trata-se de uma lesão vegetante, pré-maligna, de tratamento bastante simples. Dependendo do paciente, é possível fazer a ressecção com anestesia local e não há sequelas funcionais nem para a deglutição nem para a fala.
Drauzio – E a lesão que aparece na imagem 2?
Orlando Parise Jr. – Situada no terço médio da borda lateral da língua, é uma pequena úlcera rasa, mas com extremidade um pouquinho mais elevada. Uma pessoa desavisada, às vezes, pode conviver muito tempo com uma lesão dessas na boca, vê-la crescer e só procurar auxílio médico quando ela está numa fase avançada e requer mutilação.
Drauzio – Nessa fase, a lesão dói como aconteceria se fosse uma afta?
Orlando Parise Jr. – O comportamento é muito variável. Às vezes dói; outras, não apresenta nenhum sintoma. Normalmente, a dor começa a ocorrer nos estadios mais avançados ou quando aparece uma infecção secundária provocada por alguma das inúmeras bactérias existentes na boca.
Drauzio – Essa lesão tumoral é muito semelhante a uma afta. Como o observador desavisado pode diferenciá-la da afta vulgar, muito comum na população?
Orlando Parise Jr. – Geralmente, as lesões iniciais do câncer têm a borda mais endurecida do que as aftas. Outro fator a considerar é o tempo. A afta costuma ser um processo autolimitado. Depois de uma ou duas semanas, deve cicatrizar. No caso de um câncer inicial de boca, a lesão só tende a crescer e, se não involuir com medidas terapêuticas convencionais, como a aplicação de um colutório, a pessoa deve procurar um médico para fazer biópsia.
SINAL DE ALERTA
Drauzio – Como alertar a população sobre as características das lesões que precisam da avaliação de um médico?
Orlando Parise Jr.– O problema é que as lesões malignas de boca não têm um formato típico. Por isso, devemos ficar atentos a qualquer alteração na mucosa da boca e acompanhar sua evolução. Se não voltar ao normal em poucos dias, uma ou duas semanas no máximo, devemos procurar um profissional para diagnóstico. Pode ser uma infecção, um problema venéreo, uma lesão pré-maligna ou um câncer já instalado.
Devem tomar cuidado maior os tabagistas, especialmente aqueles que tomam bebidas alcoólicas e fumam, e pessoas com problemas de voz e que apresentem dificuldade para engolir, especialmente se essas alterações forem ficando mais intensas.
Drauzio – Quando você diz tabagista, certamente, está se referindo aos que fumam cigarros, cachimbos e charutos.
Orlando Parise Jr. – Aparentemente, o charuto é um pouco menos agressivo do que o cigarro, mas o cachimbo é um fator de risco importante para o câncer de boca.
Drauzio – Há um tipo de lesão de lábio que é característica dos fumantes de cachimbo. É lógico que o ideal seria que ninguém fumasse, nem cachimbo, nem cigarro, nem charuto. Sob qualquer forma, o fumo é pernicioso, mas quem fuma cachimbo não deve apoiá-lo sempre no mesmo local da boca para evitar agressões repetidas. Há outros fatores de risco para o câncer de lábio?
Orlando Parise Jr. – É muito comum os cânceres de lábio estarem associados à exposição ao sol. Atualmente, todos sabem que o sol pode ser prejudicial. Há alguns anos, porém, essa informação não existia e muita gente está desenvolvendo câncer de lábio, geralmente no lábio inferior, porque tomou sol em excesso.
CIRURGIAS
Drauzio – Você disse que as lesões pré-malignas podem ser resolvidas com uma cirurgia muito simples que não provoca deformações nem danos funcionais. Por isso, a lesão maligna descoberta na fase inicial é passível de ressecção cirúrgica bastante econômica.
Orlando Parise Jr. – Mesmo na fase inicial, a lesão maligna exige ressecção um pouco mais extensa, a fim de resguardar a margem de segurança necessária. Normalmente, retira-se a lesão e resseca-se em torno de 1cm de tecido normal. Já a profundidade costuma ser limitada, porque os tumores estão numa região superficial da mucosa.
No entanto, quando há infiltração muscular, o que caracteriza o avanço da doença, dependendo da região da língua em que se localiza o tumor, a intervenção cirúrgica pode provocar comprometimento tanto da deglutição quanto da fonação.
EVOLUÇÃO E DIAGNÓSTICO
Drauzio – Como evoluem essas lesões, desde a pré-maligna até a francamente maligna que se dissemina pelo organismo?
Orlando Parise Jr.– Às vezes, passam-se vinte anos entre o início das alterações pré-malignas até o câncer tornar-se invasivo. Em termos de saúde pública, é um tempo enorme que permitiria fazer todo tipo de rastreamento populacional e tratar as pessoas que estão em risco. Infelizmente, isso não ocorre no Brasil, embora o diagnóstico seja barato e não exija exames sofisticados como a ressonância magnética, por exemplo, pois bastam um espelhinho e o treinamento do profissional que faz a avaliação.
Drauzio – Muitos desses diagnósticos são feitos pelo dentista, que descobre uma lesão que nem mesmo o paciente tinha percebido. Você acha que, de maneira geral, os dentistas estão preparados para fazer o diagnóstico precoce?
Orlando Parise Jr. – Atualmente estão muito mais preparados do que há quinze, vinte anos. O próprio Ministério da Saúde desenvolve programas visando à saúde bucal. Embora a situação tenha melhorado muito, de vez em quando, aparecem pacientes que fizeram tratamento dentário durante meses sem que o dentista tivesse notado a lesão que crescia.
Drauzio – O álcool potencializa a ação da nicotina. Com que frequência devem fazer exames preventivos da boca e da garganta as pessoas que bebem e fumam ou aquelas que fumam, mas não bebem?
Orlando Parise Jr. – Não sei responder essa pergunta. Só sei que o pico da incidência desses tumores ligados ao cigarro ocorre na quinta ou sexta década de vida. Por isso, depois dos cinquenta, sessenta anos, o fumante deve procurar um médico ou o dentista para avaliação da boca e da garganta e fazer raios X de tórax. Além disso, independentemente da idade, qualquer alteração no timbre de voz ou dificuldade de deglutição deve chamar a atenção e ser avaliada.
Do mesmo modo, pessoas que convivem com tabagistas não estão livres do problema. Nós cansamos de receber pacientes com carcinoma ligado ao cigarro que,  embora nunca tenham fumado, conviveram com fumantes por muito tempo.
Drauzio – Como você avalia clinicamente um fumante com 55 anos, que bebe de vez em quando, no que diz respeito à boca e à garganta?
Orlando Parise Jr. – Basicamente, o exame consiste em examinar a boca para verificar se existem lesões suspeitas, palpar o pescoço para sentir se há gânglios comprometidos e fazer uma nasofibroscopia (exame para olhar a parte de trás da garganta e os seios piriformes através de uma fibra ótica fininha que é introduzida pelo nariz). O mais importante, porém, é a pessoa estar atenta aos sintomas e procurar um profissional capaz de interpretá-los.
Drauzio – Às vezes, os tumores provocam dor ao deglutir. Dor de garganta, porém, é um sintoma frequente em pessoas com quadros alérgicos e a garganta irritada também torna difícil engolir. Qual a diferença entre dificuldade de deglutição provocada por doença invasiva e a provocada por doenças banais?
Orlando Parise Jr. – A dificuldade de deglutição não é um sintoma muito valorizado nos diagnósticos de câncer da boca e garganta. Certas condições clínicas, crônicas, provocam dificuldade de deglutir. Por exemplo, paciente com refluxo gastroesofágico tem dificuldade para engolir, porque o conteúdo ácido do estômago extravasa e irrita o esôfago e a laringe. No entanto, se houver alterações da voz (disfonia), que persistem durante duas ou três semanas, é preciso procurar atendimento de um especialista.
TUMORES NAS CORDAS VOCAIS
Drauzio – Quais as características dos tumores nas cordas vocais?
Orlando Parise Jr. – Quando o câncer se instala nas cordas vocais, os sintomas aparecem logo, porque o tumor impede a aproximação adequada de uma corda na outra e a produção dos sons fica alterada. Isso permite fazer precocemente o diagnóstico.
Outra característica favorável desse tipo de tumor é que raramente ocorrem metástases, ou seja, é baixa a possibilidade de a doença invadir os gânglios do pescoço.
Diagnóstico precoce e tumor não invasivo indicam bom prognóstico, não só para os tumores das cordas vocais, mas para o câncer de cabeça e pescoço, em geral.
TRATAMENTO
Drauzio – O ideal é fazer o diagnóstico precoce e retirar o tumor cirurgicamente respeitando uma margem de segurança de pelo menos 1cm além do limite da lesão. Quando o tumor já atingiu os linfonodos (gânglios) do pescoço, o que se pode fazer?
Orlando Parise Jr. – O tratamento do câncer de cabeça e pescoço mudou um pouco nos últimos anos. Até dez ou quinze anos atrás, a base do tratamento era a cirurgia e a radioterapia. Depois, surgiram alguns protocolos chamados de preservação do órgão, segundo os quais se procurava evitar a mutilação cirúrgica, ou melhor, procurava-se preservar praticamente tudo, embora os resultados fossem discutíveis. Por exemplo, do ponto de vista anatômico, o paciente permanecia com a laringe que, às vezes, deixava de funcionar depois do tratamento, e o que aparentemente era uma vantagem, transformava-se num problema sério porque, além de engasgar quando ia engolir, ele apresentava outros problemas ligados a um órgão que perdeu a funcionalidade.
A filosofia, hoje, é tentar ser conservador quando se trata de um tumor primário para evitar a mutilação funcional, mas a agressividade do tratamento deve ser maior se os gânglios do pescoço estiverem comprometidos.
Drauzio – E nos casos em que a cirurgia não é mais indicada porque o tumor é grande demais ou está localizado numa região que, ao ser removido, provocaria deformidades anatômicas graves?
Orlando Parise Jr. – Associar a quimioterapia com a radioterapia é uma solução para esses casos, pois torna possível certo controle da doença. Muitas vezes, o objetivo do tratamento não é mais a cura, mas manter a doença num grau de estabilidade para que o paciente tenha bom convívio social e não sinta dor.
Na verdade, são múltiplos os aspectos a considerar. Já que não se pode mais almejar a cura, é preciso que o tratamento proporcione conforto para que a pessoa consiga integrar-se à sociedade, consiga trabalhar e, em último caso, para que não se sinta abandonada nessa fase da doença.
PREVENÇÃO
Drauzio – Quais são as medidas preventivas para evitar o câncer de boca e garganta?
Orlando Parise Jr. – Primeira medida: desenvolver hábitos saudáveis. Quem fuma deve procurar ajuda para deixar de fumar. É ponto pacífico que o cigarro está ligado a uma série de problemas de saúde além do câncer.
Outro ponto importante: é preciso cuidar da saúde da boca. Gengivites crônicas ou  problemas dentários de qualquer espécie requerem cuidados especiais. Reabilitar a boca do ponto de vista funcional para garantir mastigação adequada, acabar com os focos de infecção e fazer boa higiene oral são medidas muito importantes.
Terceiro ponto: periodicamente, o médico ou o dentista devem ser consultados para avaliação. Qualquer alteração de voz requer a análise de um otorrino, de um especialista em cabeça e pescoço, ou de um clínico geral e a indicação de uma laringoscopia.
Em termos de política pública, é fundamental que as faculdades de medicina, de odontologia e o Ministério da Saúde desenvolvam rastreamentos populacionais dirigidos aos grupos de risco para examinar a boca dessas pessoas. Isso é muito barato de fazer. Bastam um espelhinho, um abaixador de língua e uma lanterna. No Brasil, já houve campanhas de rastreamento com resultados animadores. Uma delas, em Vitória (ES), conseguiu baixar significativamente a incidência de câncer de boca com o diagnóstico precoce. São campanhas simples e baratas com grande impacto na economia porque evitam os gastos com radioterapia e quimioterapia exigidos pelas lesões em estádio avançado.
Drauzio – Sem falar no sofrimento dos pacientes e dos familiares…
PERGUNTAS ENVIADAS POR E-MAIL
Vera Lucia Povoas – Blumenau (SC) –  Qual a relação entre câncer de boca e próteses mal-feitas?
Orlando Parise Jr. – Antigamente se dizia que próteses mal ajustadas eram um dos agentes causadores de câncer, porque provocavam um traumatismo crônico. Alguns estudos colocaram essa opinião por terra. Eu diria que o assunto é polêmico. É óbvio que ninguém deve manter uma prótese mal ajustada na boca, mas dizer que elas provocam câncer ainda é um tema em discussão.
Karina Belchior – Divinópolis (MG) – Dente mal arrancado pode provocar câncer de boca?
Orlando Parise Jr. – Não, não pode.
Aída Leme – Rio de Janeiro (RJ) – Batom é fator de risco para o câncer?
Orlando Parise Jr. – Usar batom não representa risco para câncer. Fosse assim, estaríamos perdidos.
Patrícia Sombrino – Porto Alegre (RS) – Existe alguma substância que, ao ser ingerida, deixa o indivíduo mais suscetível à doença?
Orlando Parise Jr. – Sabe-se que hábitos alimentares inadequados (pouca ingestão de fibras, por exemplo) podem favorecer a instalação do câncer de colo do intestino, mas não há nenhum indício de que a alimentação normal do dia a dia favoreça o desenvolvimento de câncer de cabeça e pescoço.
Drauzio – Se a lesão já estiver instalada, há algum tipo de alimento que a faça progredir mais rápido?
Orlando Parise Jr. – Existem estudos que dizem o contrário, ou seja, que a pessoa pode minimizar o risco de câncer, comendo muita fruta e outros vegetais, principalmente os que contêm caroteno, como a cenoura, por exemplo, mas nada foi provado de forma definitiva.
Maria Aparecida Desiderio – São Paulo (SP) O auto-exame ajuda a antecipar o diagnóstico da doença?
Orlando Parise Jr. – Sem dúvida. É muito importante que, ao fazer a higiene oral, a pessoa abra a boca, coloque a língua em todas as posições de modo que possa olhar o interior da própria cavidade oral. Além disso, se notar um caroço, qualquer que seja ele, no pescoço, deve procurar auxílio médico rapidamente.

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