terça-feira, 29 de novembro de 2011

Mitos e verdades sobre o uso dos Bancos de Ossos no tratamento Odontológico

O uso do banco de ossos em tratamentos odontológicos é utilizado desde 1999 no Brasil, mas ainda existem muitas dúvidas sobre o procedimento. Para esclarecer como funciona o método, a Dra. Daisy Schwarz, gerente geral do Banco de Ossos de Curitiba explica, em entrevista exclusiva ao Conselho Federal de Odontologia as etapas do processo.

O que são os bancos de ossos?
Conforme a Portaria 2600 de 21/10/2009, CAPÍTULO VII – DOS BANCOS DE TECIDOS: Art. 149. Os Bancos de Tecidos são definidos como estabelecimentos de saúde que dispõem de instalações físicas, equipamentos, recursos humanos e técnicas adequadas para identificação e triagem dos doadores, captação, processamento, armazenamento e distribuição de tecidos e seus derivados, de procedência humana, de doadores vivos ou cadáveres, para fins terapêuticos e de pesquisa.§ 1º Os Bancos de Tecidos serão classificados nas seguintes modalidades: I – Banco de Tecidos Oculares – Habilitação 24.13; II – Banco de Tecidos Cardiovasculares – Habilitação 24.14; III – Banco de Tecidos Musculoesqueléticos – Habilitação 24.15; Tecidos Musculoesqueléticos são: ossos, tendões, fáscias e ligamentos;IV – Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário – Habilitação 24.16; e V – Banco de Pele – Habilitação 24.22.

Como funciona atualmente o tratamento odontológico com o uso do Banco de Ossos?
Qualquer indivíduo que apresente perda óssea causada por trauma, infecção ou doença periodontal poderá realizar cirurgias de enxerto ósseo. Técnicas de enxertia podem não só ajudar a prevenir a perda óssea adicional, como auxiliar os pacientes na recuperação da função mastigatória e melhorar a fala. Em muitos casos, enxertos ósseos são necessários antes de implantes dentários.

Quem pode usar os bancos de osso?
A doação de ossos pode ajudar pacientes que precisam realizar cirurgias odontológicas para correção de falhas ósseas relacionadas aos dentes (entre outras) e pacientes que necessitem de cirurgias ortopédicas, como: revisão de artroplastias (cirurgias de revisão de próteses de quadril e joelho), ressecção de tumores ósseos, correção de falhas de consolidação óssea, cirurgias da coluna vertebral, correção de deformidades congênitas em crianças, acidentados e outros pacientes como atletas que necessitam de cirurgias de ligamentos, substituição de meniscos, perda de cartilagem, etc. A melhora na qualidade de vida do paciente receptor é visível. São ganhos objetivos, da recuperação de atividades simples do dia-a-dia até a prática de esportes, bem como melhoria na saúde bucal e recuperação da auto-estima.

Quem são os doadores dos bancos de ossos?
Existem dois tipos de doadores de tecidos: o doador vivo e o doador em óbito. O doador vivo é o paciente que será submetido à cirurgia para colocação de prótese em quadril, na qual é retirada, durante o procedimento, a cabeça femoral. Para ser doador neste caso, deverá o paciente autorizar a utilização da cabeça femoral pelo banco através de consentimento informado. O doador em óbito é aquele que evoluiu com morte encefálica ou parada cardíaca durante a sua internação hospitalar. O doador não pode ser portador de nenhuma doença que possa ser transmitida ao paciente receptor. São pessoas que em vida eram saudáveis. Fatores como idade, antecedentes médicos e causa da morte são levados em conta.

Desde que iniciou o procedimento do uso de Banco de Ossos no tratamento odontológico, em 1999, no Brasil, o que mudou nesse meio tempo?
Houve aperfeiçoamento das técnicas tanto de captação quanto de processamento dos tecidos, bem como, a legislação vem se tornando mais específica e rigorosa, o que assegura aos receptores de enxerto a sua probidade.

Onde estão localizados os bancos de ossos no Brasil?
Atualmente há Bancos de Ossos no Rio Grande do Sul (Passo Fundo), Paraná (Curitiba), São Paulo (HC, Santa Casa e Unimar) e RJ (INTO).

Para o manejo saudável do banco de ossos, qual é o procedimento correto de higienização e conservação do material?
O tecido captado é levado para o banco de ossos e armazenado em ultra-congeladores, que o preservam a 80° graus negativos. O processamento é realizado em área com rigoroso controle de qualidade. Neste momento, são realizados mais testes para comprovar a qualidade do material e do procedimento de processamento do tecido. Exames microbiológicos e radiológicos vão minimizar os riscos para a saúde do receptor. Os resultados dos novos exames, juntamente com realizados durante a retirada do tecido, vão determinar a aprovação ou não do mesmo para o transplante, do contrário este material é descartado.

Outro fator determinante é a logística de distribuição, que deve entregar os tecidos para os cirurgiões com suas características preservadas e em temperatura adequada.
Após o descongelamento do mesmo, deve ser usado em até seis horas, sempre em um único paciente receptor, e, havendo sobra deste material o mesmo deve ser descartado e nunca transferido para outro paciente. Somente assim se manterá a rastreabilidade obrigatória de cada doador – receptor, que é notificada mensalmente à Central Estadual de Transplantes e remetida ao Sistema Nacional de Transplante. Os tecidos liofilizados podem ser armazenados à temperatura ambiente. Quaisquer intercorrências durante o ato cirúrgico ou no pós-operatório devem ser notificadas ao Banco de Ossos.

Quais são as informações necessárias que um cirurgião-dentista precisa ter para efetuar um tratamento com o uso do Banco de Ossos em segurança?
Solicitar o tecido adequado e em quantidade suficiente para cada procedimento a ser realizado. Utilizar a técnica de manipulação de acordo com as instruções das etiquetas dos tecidos, com total assepsia e seguindo normas de biosegurança. Utilizar cada tecido em um único paciente, registrando sempre o lote de identificação que consta na etiqueta no prontuário do paciente. Nunca rearmazenar o mesmo, ou aproveitar sobras de tecidos. Relatar eventos adversos quando ocorrerem, ao Banco de Ossos. Certificar-se que o Banco de Ossos em que está solicitando os tecidos seja devidamente credenciado no Sistema Nacional de Transplante e esteja com seu credenciamento válido.

O que é necessário para o cirurgião-dentista poder utilizar os bancos de ossos?
O Banco de Tecidos poderá enviá-los, segundo a Portaria 2600 somente para profissionais cadastrados: XI – fornecer tecidos humanos e seus derivados, para uso terapêutico, unicamente para profissionais transplantadores devidamente autorizados pela Coordenação Geral do Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde – CGSNT;

Ao se submeter a este tipo de tratamento odontológico, quais os principais pontos que o paciente precisa ficar atento? Existem riscos neste tipo de tratamento? Quais?
O risco é muito baixo. Estatisticamente, um receptor, dependendo do tipo de enxerto, assume um risco de contrair uma doença calculado em menos de 1 em 1 milhão. A compatibilidade entre doador e receptor costumeiramente é muito boa, sendo raros os casos isolados de rejeição. Deve-se, contudo, ter em mente que o processo envolve diversos cuidados e vários casos de doadores costumam ser descartados se não houver conformidade com os protocolos de seleção.

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