sexta-feira, 7 de março de 2025

Analgesia em casos agudos em Endodontia.

 


 

Fevereiro de 2025, por André Eduardo Amaral Ribeiro, dentista.

Contarei minha experiência nos últimos onze anos na clínica odontológica de um serviço público, unidades na Prefeitura de São Paulo e Taboão da Serra, uma cidade vizinha da Capital. É minha opinião e as observações, prevalência delas foram todas colhidas por fichas assinadas.

O que comumente nos traz o paciente ao serviço de urgência é a especialidade da Endodontia. As queixas comuns são dores lancinantes (em forma de pontada de lança, esse é o significado lexical da palavra que ser origina de lança), seguida de queixas de insônia. Os pacientes costumam a se medicar com os fármacos, nesta ordem: dipirona sódica, amoxicilina (uma crença errônea da população), ibuprofeno, diclofenaco ou nimesulida. A maioria foi atendida nos sábados, domingos, noites ou madrugadas em serviços médicos. A maioria não foi atendida por um dentista nestes horários, por terem o primeiro contato com médico plantonista, sem especialidade conhecida. Considero o uso da amoxicilina irrelevante para analgesia em dores pulpares ou periapicais.

Normalmente, nos hospitais, os médicos prescrevem antibióticos (a grande maioria a própria amoxicilina) e nimesulida via oral. A medicação injetável raramente é prescrita. Muitas vezes recebo telefonemas de médicos que estão de plantão, grande parte no sábado ou domingo, depois dos quais indico a medicação injetável: Profenid 100 mg (cetoprofeno) ou Voltaren 75 mg (diclofenaco sódico), que são de analgesia rápida para o paciente em sofrimento álgico.

Convém relembrar[1]:

 A anamnese é a base da consulta odontológica inicial, que tem por objetivo colher informações para formar um ou mais hipóteses diagnósticas. Aos mesmos tempos, permite que o cirurgião-dentista comece a delinear o perfil do paciente que será tratado sob sua responsabilidade profissional. Nessa direção, é recomendável que paciente seja classificado de acordo com seu estado de saúde geral ou categoria de risco médico. A American Society of Anesthesiologists adota um sistema de classificação de pacientes com base no estado físico, daí a sigla ASA-OS. Por este sistema, nos Estados Unidos, os pacientes são distribuídos em seis categorias, denominadas de P1 a P6. No Brasil, ainda prevalece apenas o uso do acrônimo ASA (de I a VI). Ressalte-se que essa classificação foi designada para adultos.

ASA-I: paciente saudável, que de acordo com a história médica não apresenta nenhuma anormalidade. Não mostra ansiedade, sendo capaz de tolerar muito bem o estresse ao tratamento dentário, com risco mínimo de complicações. São excluídos pacientes muito jovens ou muitos idosos.

ASA-II: paciente que sofre de doença sistêmica modera ou de menor importância que o ASA-I, por apresentar maior ansiedade ou medo do tratamento odontológico.

ASA-III: paciente que sofre de doença sistêmica severa, que limita suas atividades. Sendo imprescindível a troca de informações com o médico.

ASA-IV: paciente que sofre de doença sistêmica severa, que corre o risco de morte. Quando possível, os tratamentos dentários devem ser postergados. As urgências odontológicas, como dor e infecção, devem tratadas da maneira mais conservadoras que a situação permita.

ASA-V: paciente em fase terminal.

ASA-VI: paciente com morte cerebral decretada.

Cerca de dois terços dos pacientes recorrem à automedicação, ante ao desespero da dor. Um terço consome dipirona em superdoses: cem gotas, cento e vinte gotas. A dose de 1000 mg é indicada a cada seis horas. Colhi opiniões de colegas médicos que prescrevem 2000 mg em hospitais, por via endovenosa de dipirona sódica. Nunca prescrevi essa dose de 2 g. Quando ouço que o paciente se automedicou com dipirona, oriento que a dipirona não é um fármaco com eficácia anti-inflamatória. Oriento que para dores de dente inespecíficas, o efeito anti-inflamatório será necessário.

Quanto às prescrições, no livro[2] temos:

 

Os AINEs (anti-inflamatórios não esteroidais) são indicados para o controle da dor aguda de intensidade moderada a severa, no período pós-operatório de intervenções odontológicas eletivas, tais como exodontia de inclusos, as cirurgias periodontais, a colocação de implantes múltiplos, os procedimentos de enxertia óssea etc. O regime mais eficaz com os AINEs é de analgesia preventiva, introduzindo imediatamente após a lesão tecidual, porém antes do início da sensação dolorosa. Em termos práticos, a primeira dose é administrada ao final do procedimento (paciente ainda sob os efeitos da anestesia local), seguidas das doses de manutenção, por curto período. Os AINEs também podem ser úteis no controle da dor já instalada, decorrentes de processos inflamatórios agudos (p.ex. percicementites), como complemento dos procedimentos de ordem local.


E outro texto sobre a má-prática[3] :

 

Evitando lesões por negligência durante a terapia endodôntica - A consideração mais importante seguir as diretrizes e protocolo padrão durante a realização do tratamento endodôntico. A observação dos protocolos de tratamento está associada ao compromisso com qualidade do resultado do tratamento, o que pode levar a processos cíveis indenizatórios. A grande maioria das lesões resultantes da má prática do tratamento endodôntico foi considerada evitável. O conhecimento atualizado do assunto e a competência de habilidades também são um dos fatores na prevenção da negligência endodôntica e permite que os profissionais diagnostiquem, planejem o tratamento e realizem o procedimento endodôntico com os prognósticos desejados. Portanto, as habilidades técnicas dos endodontistas devem ser aprimoradas com experiência de trabalho supervisionada, workshops e atividades de desenvolvimento profissional contínuo. Para reduzir a probabilidade de processos judiciais, o plano de tratamento endodôntico, o prognóstico e todas as complicações possíveis devem ser discutidos com o paciente, seguidos da assinatura de um consentimento informado por escrito. Além disso, a Associação Americana de Endodontistas forneceu um formulário de avaliação para avaliar a dificuldade do caso, que é uma ferramenta valiosa para prever as possíveis complicações e contratempos. Usar o isolamento do dique de borracha para minimizar o risco de infecção cruzada e prevenir a inalação ou ingestão acidental de instrumentos endodônticos de materiais dentários, que é sempre recomendado. As variações anatômicas nas raízes e na morfologia do canal radicular são comuns. Portanto, as radiografias pré-operatórias são essenciais e auxiliam os operadores no diagnóstico correto da extensão da cavidade de acesso e instrumentação dos canais radiculares. Além disso, as radiografias ajudam a reduzir as chances de erros de procedimento, como perfuração, remoção ou formação de saliências. Se disponível, o dentista deve considerar o uso de equipamentos avançados (como sistemas rotativos bem controlados e tomografia computadorizada de feixe cônico), pois o uso de tais tecnologias reduz o risco de erros de procedimento e má-prática odontológica.

 

 

Vou classificar a analgesia de: antiinflamatórios não esterioidais (AINEs), antiiflamatórios esteroidais GC (glicocorticóides), analgésicos comuns e analgésicos de ação central. Escrevei sobre o cloridrato de tramadol como um analgésico de ação central. A classificação será quanto a potência analgésica que observei nesses onze anos, pois ingressei na Prefeitura de São Paulo em 2014, depois de ser aprovado no concurso público. Ainda dividiremos os analgésicos entre injetáveis e comprimidos/cápsulas/drágeas, ou via oral.

Então teremos:

Analgesia muito boa (++++): quatro cruzes.

Analgesia boa (+++): três cruzes.

Analgesia média (++): duas cruzes

Analgesia fraca (+): uma cruz.

 

FÁRMACOS INJETÁVEIS

Gosto bastante e prescrevo com frequência as injeções após a instrumentação de canais em pacientes que se queixam de uma dor com score sete ou maior, numa escala de zero a dez. Normalmente, se o paciente afirma insônia, sempre administro na via injetável.

Betametasona: suas apresentações mais famosas são Diprospan 7 mg (Dipropionato de Betametasona 2 mg + Fosfato Dissódico de Betametasona 5 mg). Mais raro é o Celestone 2 mg, nem sempre disponível no serviço público. Tem bom efeito analgésico e é rápido na via injetável. Como reações adversas: aumento do apetite e euforia leve. Pessoalmente, esse medicamento me causa uma cefaleia chata. Os pacientes costumam conhecer e o consideram um remédio muito forte, alguns tem medo dele por causa dessa fama. Uma ampola é necessária para tratar uma dor pós-instrumentação, flare up e dor pericementária (pericementite ou periapicite). Existe o Duoflam, Beta-Trinta e a versão genérica. (++++)

Dexametasona: sua apresentação mais famosa é o Decadron (Fosfato Dissódico de Dexametasona 4 mg ou 10 mg). Decadron é praticamente o sinônimo da dexametasona com ampolas com 2 ml ou 2,5 ml para a versão com 10 mg. Tem bom efeito analgésico e é rápido na via injetável. Como reações adversas: aumento do apetite e euforia leve. Pessoalmente, esse medicamento me causa soluços horríveis e incoercíveis, por isso não tomo essa medicação e prefiro a betametasona. Uma ampola de 4 mg é suficiente para tratar uma dor pós-instrumentação, flare up e dor pericementária (pericementite ou periapicite). A versão de 10 mg não é necessária, vez que 4 mg foram suficientes. A versão genérica é bastante comum nas UBS. (++++)

Diclofenaco[4]: sua apresentação mais famosa é o Voltaren (diclofenaco sódico 75 mg). Antigamente, existia a versão injetável de Cataflam (diclofenaco potássico), mas há anos não a encontro em farmácias ou unidades de saúde. É o fármaco mais barato e o que mais prescrevo na via interna, intramuscular no glúteo. A dose única costuma ser suficiente para tratar a dor relacionada à pulpite ou dor pós-instrumentação, flare up e dor pericementária (pericementite ou periapicite). Também prescrevo com frequência para evitar a dor pós-operatória nas exodontias com osteotomias, em destaque para os terceiros molares. O paciente precisou de uma dose no dia seguintes em menos de 2% das exodontias. Relativamente seguro, e o evento adverso mais comum é a epigrastalgia. (++++)

Cetoprofeno: também chamado de Profenid, comum em pós-operatórios hospitalares em Ortopedia, Cirurgia Geral e Otorrinolaringologia. A dose de 100 mg a cada doze horas, na veia, é aceitável. Tem a vantagem de uma posologia mais flexível com duas ou três doses diárias, se comparado às doses únicas do diclofenaco. A náusea, vômito ou dor epigástrica são as reações adversas mais comuns. A dose única costuma ser suficiente para tratar a dor relacionada à pulpite ou dor pós-instrumentação, flare up e dor pericementária (pericementite ou periapicite). Também prescrevo com frequência para evitar a dor pós-operatória nas exodontias com osteotomias, em destaque para os terceiros molares. Eficácia clínica analgésica equivalente ao diclofenaco injetável, segundo minhas observações. (++++).

Tenoxicam: a nome comercial Tilatil é o mais famoso, quase um sinônimo. Numa época que trabalhei num Serviço, eles tinham uma relação com um fabricante e havia duas modalidades de ampolas – 20mg ou 40 mg. Foi um medicamento que não vi boa resposta para o tratamento de dor endodôntica. Considero inferior em analgesia em relação ao diclofenaco 75 mg e o cetoprofeno 100 mg, ambos intramusculares nas especialidades de Endodontia e Cirurgia Bucal ou Maxilofacial. Desconselho essa medicação. (++ 40 mg ou + 20 mg)

Tramadol 100 mg injetável: não tive experiência suficiente para formar uma opinião.

Dipirona sódica injetável: em razão da falta de efeito anti-inflamatório, nunca prescrevi isoladamente. A escolha da dipirona sempre esteve associada ao corticoide, portanto, não pude formar uma opinião sobre ela em uso avulso. Normalmente, antes de mudar de fórmula, o Lisador era o “sinônimo” de dipiora, muito embora tenha seja medicamento com associações - Lisador Injetável 375mg de dipirona + 12,5mg de prometazina + 12,5mg cloridrato de adifenina, caixa com 3 ampolas com 2mL de solução de uso intramuscular ou intravenoso. Já o Lisador na fórmula acima, consegui bons resultados quando estudei no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. No entanto, os casos eram exclusivos na Cirurgia Bucomaxilofacial. O Lisador era injetado a cada seis horas (750 mg de dipirona sódica), no leito hospitalar, com ótima analgesia. (++++)

Meloxicam: usei poucas vezes a versão injetável de 15 mg por ampola, em razão de ter recebido amostras do antigo Movatec. Agora, o Melocox é a marca mais comum no mercado. Em razão do pouco uso injetável, não pude classificá-lo nesta escala quatro graus de analgesia, embora via oral tenha se mostrado pouco eficaz.

Acredito que uma injeção em dose única de diclofenaco 75 mg ou cetoprofeno 100 mg seja suficiente após a instrumentação de canais infectados, pulpectomia ou penetração desinfetante em Endodontia. Como medicação de resgate, uma prescrição da mesma droga via oral para os quatro dias seguintes, ou diclofenaco sódico 50 mg a cada oito horas ou cetoprofeno 100 mg a cada doze horas, via oral para ambos. Atenção para a técnica[5] de injeção.

 

FÁRMACOS POR VIA ORAL

No ótimo livro de Farmacologia de Eduardo Dias de Andrade, capítulo 6, tabela 6.2, o professor apresenta como principais AINEs (anti-inflamatórios não esteroidais) os fármacos: cetorolaco (Toragesic); diclofenaco potássico (Cataflam); ibuprofeno (Advil); nimesulida; cetoprofeno; piroxicam; tenoxicam; meloxicam; celecoxibe (Celebra); Etoricoxibe (Arcoxia). Foda da lista temos: etodolaco, lornoxicam, loxoprofeno.

Assisti a um curso no ano passado, promovido pela Prefeitura de Taboão da Serra com a disciplina de Clínica Odontológica da FOUSP. Na ocasião, o professor Rodney concluiu: (a) ibuprofeno de 200 a 400 mg para dores leves e moderadas; (b) celecoxibe 200 mg ou 400 mg na dose inicial para dores intensas; (c) dipirona como droga para se associar e se alcançar analgesia mais eficiente; (d) paracetamol com codeína 30 mg (Tylex) para dores intensas. E de fato podemos associar celecoxibe com dipirona, ibuprofeno e dipirona, além dos casos de celecoxibe com codeína e paracetamol – esta última a minha preferida. No entanto, os pacientes costumam reclamar do preço. Não considero o celecoxibe como um bom analgésico, seu efeito contra a dor é fraco e eu classificaria como (+), uma das cruzes. Já associado, tem ótimo efeito anti-inflamatórios e a dipirona ou a codeína associada servem na fração analgésica e rápida da dor. Nos meu pacientes de exodontias de terceiro molar com osteotomia, na clínica particular, sempre prescrevo celecoxibe e deixo uma receita separada com o Tylex, para comprar se a dor se intensificar.

O curso da FOUSP não citou o uso de medicamentos injetáveis, já o livro do professor Andrade pontua bem no uso de injetáveis, o qual defende a aplicação do Diprospan (betametasona) antes do procedimento, como forma de analgesia preemptiva. Na literatura[6] sobre o controle da dor pós-operatória:

Tratamento da dor pós-operatória – Em implantodontia, diferentes classificações e mecanismos de supressão da dor podem ser usados. Um protocolo de controle de dor foi estabelecido, o que significa e padroniza os vários aspectos de alívio da dor:

1.                       Analgésicos não-opioides (paracetamol, ibuprofeno, naproxeno, cetoprofeno, piroxicam, nimesulida, celecoxibe, tramadol)

2.                       Analgésicos opioides (codeína).

3.                       Adjuvantes.

A estratégia do manejo da dor usando múltiplos analgésicos com diferentes mecanismos de ação é denominada terapia analgésica combinada. O objetivo de combinar diferentes tipos é aumentar o efeito analgésico e diminuir as possíveis reações adversar farmacológicas. Quando múltiplas drogas são usadas em combinação os efeitos aditivos e sinérgicos permitem o uso de doses menores de cada droga individual. Com a terapia combinada, o paracetamol e os anti-inflamatórios são usados somados a um opioide. (...) Devido ao efeito máximo do paracetamol e dos anti-inflamatórios não-esteroidais, incrementos na dosagem não fornecerão qualquer analgesia adicional; contudo irão aumentar os efeitos colaterais.

Minha experiência clínica classifica com potentes e rápidos analgésicos (++++): naproxeno sódico 500 ou 550 mg; diclofenaco sódico 50 mg; piroxicam[7] 20 mg; cetoprofeno 50 ou 100 mg; codeína 30 ou 60 mg associados com paracetamol ou sem associar. Portanto, são medicamentos de ataque para a dor.

Já os bons também são (+++): loxoprofeno 60 mg (Loxonin ou Oxotron) e tramadol 50 ou 100 mg. Nunca gostei muito do tramadol, pois considero-o inferior à associação de codeína 30 mg e paracetamol 500 mg. Pode ser usados como medicamentos de ataque para a dor.

Insuficientes (++) e (+): meloxicam, tenoxicam, lornoxicam (Xefo 8 mg); nimesulida; etodolaco; celecoxibe e etoricoxibe.

Como já escrevi, se uso celecoxibe, associo com outro medicamento para analgesia mais rápida. O uso de corticoides via oral é lento para o efeito de analgesia, como dexametasona e betametasona em comprimidos. Não os usocomo medicamentos de ataque contra à dor.

Não vejo nenhum motivo para prescrever uma medicação de resgate para todos os pacientes de Endodontia.

 

ASSOCIAÇÕES ENTRE CLASSES DIFERENTES E VIAS DE ADMINSTRAÇÃO DIFERENTES

As associações que pratico são um AINE com um analgésico puro (sem efeito anti-inflamatório). Uso a paracetamol 500 mg como a primeira escolha e o Tylex, para associações com celecoxibe, nimesulida ou qualquer outro dos grupos (++) ou (+). Na literatura[8], sobre a reagudização no pós-operatório:

Flare-up: Igualmente, a sintomatologia clínica pós-operatória pode ser controlada pelo emprego de anestésicos de longa duração, como a bupivacaína, durante a execução dos procedimentos, e pela prescrição de agentes analgésicos/anti-inflamatórios, como o ibuprofeno de 400 a 600 mg, a cada seis horas. Outros agentes, como diclofenaco, naproxeno, cetoprofeno e piroxicam também são bastante eficazes no controle da dor de origem endodôntica. Em casos de dor severa, recomenda-se associar o acetaminofeno de 650 a 1.000 mg no intervalo das doses do ibuprofeno. Para pacientes com intolerância a AINEs que apresentam dor severa, recomenda-se o acetaminofeno de 650-1.000 mg associado a um opioide (60 mg de codeína ou 10 mg de hidrocodona).2 Em consultas posteriores, após a remissão dos sintomas em canais parcialmente instrumentados, a extrusão apical pode causar exacerbação por mobilização de novas células inflamatórias para aquela região. Este flare-up gera frustração ao profissional e, principalmente, ao paciente, que se julgava livre da dor.

A reagudização é uma possibilidade previsível, portanto, sejamos pesados na prescrição de analgésicos. Também podemos associar um fármaco via intramuscular com um fármaco via oral. Por exemplo: uma injeção de 75 mg de diclofenaco via intramuscular, com possível continuação de comprimidos, em casa, para diclofenaco sódico com 50 mg por drágea. Na literatura[9], já previsto:

O regime mais eficaz com os AINEs é o de analgesia preventiva, introduzindo imediatamente após a lesão tecidual, porém antes do início da sensação dolorosa. Em termo práticos, a primeira dose é administrada no final do procedimento (paciente ainda sob os efeitos da anestesia local), seguida das doses de manutenção, por curto período. Os AINEs também são eficazes na dor já instalada (p.ex: pericementites), como complemento dos procedimentos de ordem local (remoção da causa).

A falha no controle da dor leva a problemas como: o tratamento e opinião de outro profissional, automedicação, associação irracional de medicamentos e até processos na Justiça. Portanto, sempre prescreva um comprimido para o paciente, anote no seu prontuário porque o livrará de problemas futuros. Se o paciente levou a receita e não tomou e depois reclamou, isso precisa constar por escrito e será sua defesa em processos indenizatórios oportunistas.

O flare-up frusta o dentista.

CONCLUSÃO

Use sempre o naproxeno, diclofenaco, cetoprofeno ou piroxicam em razão de sua potência analgésica. Na pior das hipóteses, precisará complementar com uma injeção intramuscular de diclofenaco 75 mg ou cetoprofeno 100 mg. Se impossível, a prescrição bem indicada será o Tylex, com fosfato de codeína 30 mg com paracetamol 500 mg. O controle da dor é tarefa do profissional, sem ele, a intervenção de terceiros ou de hábitos nocivos do paciente poderá acabar com sua clientela.

 

 

São Paulo, 16 de fevereiro de 2025

(assinatura digital)



[1] ANDRADE, Terapêutica Medicamentosa em Odontologia, Artes Médicas, São Paulo, 2014, p.3-5.

 

[2] ANDRADE, Terapêutica Medicamentosa em Odontologia, ed. Artes Médicas, 3ª edição, São Paulo, 2019.

[3] ALRAHABIL, Aspects of Clinical Malpractice in Endodontics, Mothanna Alrahabi, Muhammad Sohail Zafar, Nejdet Adanir, 2019.

 

[4] SANTOS, Jadson. Estudo comparativo da analgesia preemptiva do tramadol, combinado a dexametasona e diclofenaco de sódio em cirurgia de terceiro molar, Aracaju, 2011.

[5] MARQUES FILHO, José. Necrose tecidual após injeção de diclofenaco de sódio, Revista Brasileira de Reumatologia, julho/agosto 2003, p.273-274.

[6] MISCH, Implantes Dentais Contemporâneos, Carl E. Misch, 3ª edição, Elsevier, p. 477-480.

[7] Feldene SL (sublingual) talvez seja o analgésico mais rápido. No entanto, tem sido difícil de se encontrar desde 2024.

[8] LOPES e SIQUEIRA, Endodontia – Biologia e técnica, 4ª Edição, Editora Elsevier, 2014, p. 1302.

 

[9] ANDRADE, Terapêutica Medicamentosa em Odontologia, ed. Artes Médicas, 3ª edição, São Paulo, 2019, p. 47.

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