A
criança na intersecção da Odontopediatria com a DTM/DOF
O
fato de não haver crianças na rotina do atendimento dos ambulatórios de DTM/DOF
não significa que elas estejam imunes à essa condição. Vários trabalhos
epidemiológicos que investigaram sinais e sintomas de DTM/DOF em crianças
apontam porcentagens que chegam a 35% da amostra avaliada. Então porque esse
percentual não é atingido nas procuras em serviços especializados? Um dos
prováveis motivos é que os sinais e sinto6mas investigados pelas pesquisas não
chegam a afetar a qualidade de vida desses indivíduos e assim não são percebidos
pela criança ou por seus cuidadores. No entanto, esse fato não se torna menos
importante sabendo que, como em toda doença, pode haver evolução para quadros
mais complexos. Desta forma, a percepção precoce de sinais e sintomas com
posterior intervenção, pode ser uma forma eficiente de evitar a evolução ou
minimizar o acometimento.
A
Odontopediatria é a especialidade que prima pela prevenção de doenças ou
alterações orofaciais para que a criança cresça livre de qualquer necessidade de
tratamento. Sabendo que a oportunidade dos primeiros contatos da criança com o
dentista é do Odontopediatra, fica claro que é sua responsabilidade reconhecer
precocemente sinais e sintomas de DTM/DOF. Após a identificação desses sinais e
sintomas, o paciente deve ser encaminhado para o profissional capacitado nessa
área específica para que seja feito o diagnóstico preciso e seguimento do caso.
Como não custa reforçar o que já está comprovado pelas evidências científicas,
mas ainda permanece como prática no nosso meio, a capacitação em área clínica
que vise a harmonia oclusal não habilita o profissional para o manejo de
pacientes com DTM/DOF.
Nesse
ponto a criança é encaminhada para um cirurgião dentista que normalmente trata
de pacientes adultos. Para o profissional acostumado ao atendimento de adultos é
importante alertar que o estabelecimento do vínculo com a criança é fundamental
para a tomada de história e que nem sempre acontece no primeiro contato. Devemos
lembrar que o adulto procura o serviço de saúde e quer ser tratado, enquanto que
a criança não procurou e em algumas vezes não quer ou tem medo do que possa ser
o tratamento. Além disso, algumas características dessa fase da vida exigem uma
abordagem específica e o profissional precisa adequar a sua linguagem para fazer
a tomada de história. É aconselhável o emprego rotineiro de recursos
anamnéticos, como diário e escalas analógicas visuais infantis de dor, e também
que se conheça as diversas etapas do desenvolvimento cognitivo para obtenção do
máximo de informações. Lembrando que a catastrofização da dor em criança também
existe, já foi bastante estudada e é influenciada pelo comportamento do
cuidador.
De
maneira geral, os estudos que abordam esse tema (DTM/DOF em crianças) estão mais
restritos na área epidemiológica e muitas inferências são feitas a partir de
pesquisas com adultos. Dessa forma, os protocolos de tratamento para crianças e
adolescentes devem obedecer aos mesmos princípios preconizados atualmente e
devem ser conservadores, reversíveis e baseados na melhor evidência científica
disponível.
Aliás,
é importante saber que o entendimento correto do que é evidência científica é
condição fundamental para a prática da Odontologia.
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