quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Docente fala da relação entre a doença periodontal e problemas cardiovasculares


Por Nicolas Gunkel
nicolasgunkel@gmail.com 
11/12/2012

São Paulo (AUN - USP) - A possível relação entre a doença periodontal (que atinge a gengiva) e a doença cardiovascular (coração) foi aventada na década de 1990, ganhando destaque nos últimos vinte anos. A professora Luciana Saraiva de Campos, da Faculdade de Odontologia da USP (FO), falou da possível interação entre as duas enfermidades para delimitar o seu possível grau de interdependência. “Assim como as doenças sistêmicas parecem interferir no curso da doença periodontal como fatores modificadores, a doença periodontal também parece influenciar o curso e o desenvolvimento de doenças e condições sistêmicas.”
Segundo a docente, pacientes com a doença periodontal apresentam uma maior quantidade de bactérias orais na corrente sanguínea do que pacientes com a gengiva saudável. A passagem frequente de algumas bactérias orais para o sangue pode permitir uma acumulação na parede do coração, levando a um sério quadro de infecção conhecido como endocardite. Luciana ressalta, no entanto, que deve haver uma predisposição determinada no paciente para que tal quadro se complique, o que relativiza a relação entre as duas doenças.
A recente literatura tem relacionado a doença periodontite com a aterosclerose, processo pelo qual a parede interna de artérias passa por uma série de mudanças, podendo ocasionar lesões em suas paredes. Como o processo inflamatório tem um papel essencial a todas as fases da aterosclerose, as causas deste fenômeno têm sido investigadas como potenciais estimuladores da doença. “Desta maneira, é possível que a doença periodontal crônica, capaz de produzir uma inflamação não apenas local como também sistêmica, possa também influenciar a doença cardiovascular”, explica.
Há uma série de fatores de risco em comum entre a doença periodontal e a cardiovascular, como a idade, o fumo e a diabetes. “Por dividirem esses fatores de risco, a doença periodontal poderia ser apenas um marcador de risco para a doença cardiovascular”, afirma a professora. “No entanto, uma grande quantidade de evidências, inclusive de estudos epidemiológicos em diversos locais do mundo, vem demonstrando que a doença periodontal pode ser considerada um fator de risco independente para a doença cardiovascular.”
Apesar dos fatores de risco semelhantes, as duas doenças divergem quanto aos sintomas. “A doença aterosclerótica é silenciosa” alerta a docente. “Já a doença periodontal apresenta como características o sangramento gengival, a presença de edema na gengiva (aumento de volume), aparecimento ou agravamento da mobilidade dentária e a migração dos dentes em casos mais avançados.”
Segundo Luciana, uma boa resposta clínica ao tratamento periodontal pode influir na redução de alguns marcadores inflamatórios, provocando melhora na função endotelial e diminuindo os riscos da doença cardíaca. No entanto, outras variáveis como o fumo e o sobrepeso podem agir em sentido contrário, dificultando conclusões definitivas sobre a eficácia do tratamento. “Esse fator, junto com a falta de padronização de diagnóstico de doença periodontal, podem ser as maiores causas de heterogeneidade nos resultados apresentados na literatura.”
Outro fator a ser considerado, segundo a docente, é a demora e a severidade com que a doença cardiovascular se manifesta normalmente, tornando a situação periodontal apenas mais um fator de risco e não o condicionante. “Por mais que a doença periodontal seja associada à aterosclerose, seu tratamento seria como cessar outro fator de risco como o fumo ou sobrepeso”, explica. “Todos os fatores de risco têm um efeito cumulativo e pode não ser lógico que uma terapia de curto prazo possa melhorar a condição cardiovascular que ficou exposta a anos de doença periodontal.”
Para Luciana, é biologicamente plausível que a doença periodontal esteja relacionada à doença cardiovascular, mas ainda são necessários mais estudos para que se entenda a verdadeira influência da doença periodontal. “No entanto, enquanto essa dúvida persistir, todos os profissionais da saúde devem estar atentos para a existência da doença periodontal, encorajando seus pacientes a terem bons hábitos de higiene bucal e recomendando visitas regulares ao dentista.” 

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